O que estás a sentir, Nonô?

Ao fim de 5 anos, e por muito que conheça a minha filha como ninguém, há momentos em que não sei o que lhe vai na cabeça e no coração.

Se, por um lado, ela fala tudo e de tudo, por outro ainda não tem bem a noção de como pôr em palavras tudo aquilo que sente.

Mas esta história começa durante umas férias com os avós.

Este ano, e depois de 2 confinamentos por causa da pandemia, achámos por bem deixá-la ir uma semana com uns avós e outra semana com outros. No fim-de-semana, a meio, íamos passar os 2 dias com ela e fazer a mudança de sítio.

A nossa intenção foi a melhor e, antes que perguntes, primeiro falámos com ela, claro. Tentámos perceber se queria, se tinha vontade… a resposta foi sempre positiva. Os avós ficaram contentíssimos e ela também.

Além disso, achamos sempre que enquanto os avós puderem é uma excelente oportunidade não só para passarem mais tempo juntos, mas também porque efectivamente ela tira uns dias de férias da escola, que também faz muita falta.

Não somos só nós, adultos, que andamos cansados! As nossas crianças também!

E apesar de estarmos ambos a trabalhar, rapidamente reconhecemos que nos ia fazer bem… que íamos poder ter mais tempo para os dois.

Fomos jantar fora, acordámos sem aquela rotina normal dos dias de escola e tivemos tempo para conversar – pais com filhos pequenos entenderão!


“Tenho saudades dos papás!”

No final da primeira semana de férias, a Nonô teve uma pequena “crise” de choro. Disse que tinha muitas saudades dos papás. A situação foi ultrapassada com miminhos e abraços e a coisa compôs-se, até porque 2 dias depois já estávamos novamente com ela.

Nesse fim-de-semana matámos as saudades e voltámos a explicar o que se seguia: que agora ia ter mais uma semana de férias noutro sítio com os outros avós, com praia, piscina, baloiços, tudo aquilo a que tinha direito.

Nesse dia, quando viemos para Lisboa, hesitou. Disse que queria que ficássemos com ela.

Com jeitinho tudo se conversou e ela lá foi aos pulinhos com os avós.

Mas sentimos, na viagem de regresso, que se calhar para ela já seriam dias “a mais” fora da rotina, fora do seu espaço, longe do quarto, longe de casa, longe dos pais.

Ao mesmo tempo, quisemos dar-lhe espaço e dar também aos avós a oportunidade de passar tempo com ela.

Se fizemos bem?

Posso dizer-te que já nos arrependemos, a dada altura.

Posso dizer-te que já achámos que nos tínhamos precipitado.

Mas, sabes que mais? Não adianta de nada, porque já estava feito.

Na 6ª feira (último dia de férias com os avós) eu ia para o Algarve fazer a inauguração da nova loja do Sítio do Bebé. O Martim já tinha dito que ia comigo, para me ajudar com as fotografias e o mais que fosse preciso, e para que não viesse sozinha para Lisboa às tantas da manhã.

O plano estava traçado e parecia perfeito: íamos trabalhar e, no sábado pela fresca, arrancávamos para junto da nossa pequenina.

Não faças grandes planos!

No entanto, o plano deixou de fazer sentido quando, na 4ª feira à noite, ligámos para falar com a Nonô.

Chorou que se fartou, de uma forma descompensada, descontrolada.

Decisão tomada. Íamos buscá-la na 5ª feira logo bem cedo.

Disse que gostava muito de estar com os avós, mas que queria muito voltar para casa.

Por videochamada, disse a seguinte frase ao Martim: “Quero tocar-te, papá!”.

Caramba, isto dá cabo de uma pessoa! Quero tocar-te? Claro! Queria sentir o pai, sentir a mãe, cheirar-nos, voltar.

Lá fomos, claro, sem hesitar.

Os avós pediram muitas desculpas, mas como lhes explicámos aqui não há “culpas”. Não há certos nem errados. Há uma criança que só quer voltar para casa, que precisa de voltar para casa. Os avós, uns e outros, cuidam dela como ninguém. Mas também as crianças têm os seus “limites”. A Nonô percebeu o dela. E isso não deixa de ser uma coisa boa.

Como mãe, senti que a minha filha se esforçou para não magoar os avós, para não ferir os seus sentimentos (os avós confidenciaram-nos depois que ela até chorava de forma silenciosa encostada a eles), mas senti também que não aguentou mais.

Não tem problema, filha! Não tem problema!

Na 6ª feira fomos os 3 para o Algarve trabalhar! Sim, que até a Nonô andou a distribuir ofertas pelos clientes e o Martim foi fazer compras de última hora para a loja.

Isto tudo para te dizer que retirámos daqui uma lição: é importante respeitarmos o que sentem os nossos filhos, é importante ouvirmos o que têm para dizer e, acima de tudo, não os responsabilizarmos ou culpabilizarmos por não quererem estar longe de casa o tempo que nós, adultos, achamos razóavel.

Aprendo todos os dias com a Nonô! Cresço todos os dias um bocadinho com ela. E que bom que é!



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